quinta-feira, 21 de abril de 2011

feriado



Voltei ontem da minha viagem a fazenda que durou 4 dias: enormes dias com minhas primas. O passado vindo fazer um trote: toca o interfone e corre para fazer o mesmo na próxima residência: um passado mudo e triste em sua solidão, mas feliz por se deixar alegrar com uma brincadeira que está longe de ser engraçada e criativa.

Foram dias ensolarados e iluminados com a ajuda da cor verde da vegetação, natural dalí, daquela região. As noites tinham cheiro de mato misturado com um friozinho que pede um chocolate quente, com muito conhaque, noites iguais as noites de primavera na Europa.

Fizemos uma rotina igual a de qualquer pessoa normal: acordar, lavar, comer, trabalhar, comer, trabalhar, comer, lavar e rezar. A única diferença aqui é que nós eramos 7 mulheres que sabem muito da vida uma da outra. Eu tinha outras escolhas. Eu poderia ter ido pra capital do meu estado, visto uns colegas e reencontrado amores e amizades antigas.

Eu também poderia ter dormido na minha cama gigantesca, sozinha, e chorado até adormecer, ao me despedir do resto da felicidade do dia 19 de Abril. Eu poderia ter assistido o esporte espetacular, observado minha mãe cortar o dedo com a faca, ao tirar as escamas de um peixe que ela preparava para o meu irmão e a futura esposa dele.

Eu poderia ter ficado e mais uma vez, forçado uma conversa com meu irmão, aquele que já não me ve mais como a mais velha, a que ele teria que vir e pedir por opiniões, a que ele amava dar longos abraços. Sou os olhos dele olhando aquela menina indo embora da sua vida, se despedindo com lágrimas e esperança. Sou aquela que o ignorou, que não viu os primeiros sinais da vida adulta dele aparecerem, a barba dele crescer, o seu primeiro carro. Sou aquela que que depois de conquistar o mundo e voltar sem nada, ainda quer ser chamada de Aninha. Sou a palavra que sai da boca dele, mas que não é ouvida. Sou a Aninha dos outros, agora. Às vezes penso em sacudí-lo e dizer: "vamos, fale o que você tem vontade". E tenho uma pontada de certeza que, com olhos secos, ele diria: "Desculpe, eu me esforço, mas, realmente, eu não sei quem você é".

Eu também poderia ter feito tudo isso e esperado pelo meu amor me ligar, uma vez só, em 4 dias. E se ele ligasse ele ocuparia 2 minutos do tempo dele pra falar comigo. Nada mais que isso. Ele diria o quanto me ama e me contaria como o fantástico feriado dele estava se desenvolvendo bem; eu imaginaria o mundo dele, as pessoas de quem ele falaria, as cores, o vento batendo no seu cabelo lindo, a parte branca dos olhos dele coberta de cansaço e colada na imensidão azul da íris. Eu perderia o folego tentando visualizar a beleza dele, a posição que ele seguria o telefone nas mãos, o movimento dos seus lábios vermelhos a cada palavra dita pra mim, ele fraziria a testa se não entendesse uma palavra solta que eu dissesse. E eu faria tudo isso rapidamente, antes de completar os dois minutos, olho no relógio e ouvido atento. E assim, eu não seria a atração principal de mais um capítulo deste monólogo: eu diria que também o amava, esta seria a minha ultima fala.

Sim, eu poderia ter escolhido assim. Mas não fiz isso. Passei meu feriado com as minhas primas, nós choramos o passado, brigamos o presente, degustamos chocolates e outras coisas mais, nos permitimos dizer não, nos ajudamos, nos deletamos, nos engordamos, nos reinventamos, nos amamos. Tudo isso feito em quatro dias. Nada de carnaval, nada de máscaras, nada de conformismo da cena: cama, televisão e cama.

Como a tecnologia ainda é remota por aquelas bandas, não tive como usar meus brinquedinhos eletrônicos, o que, na verdade, me possibilitou, algo mais rico ainda. Ao voltar pra casa e para essa oprimida civilização, escutei os mais gostosos barulhinhos que um aparelho de telefonia celular pode fazer, se é que isso é possível: Pibí Pibí Pibí. Voltei pra casa com um bônus: foram quatro ligações feitas para um celular que estava fora da área de serviço por, coincidentes, quatro dias. Durante sete dias, isso é igual a meia ligação por dia, meio desejo de reclamar a necessidade de ouvir a minha voz. Nada mal pra quem está acostumado com solidão e escassez.

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